Decreto Presidencial n.º 9/13 de 31 de janeiro
- Diploma: Decreto Presidencial n.º 9/13 de 31 de janeiro
- Entidade Legisladora: Presidente da República
- Publicação: Diário da República Iª Série n.º 22 de 31 de Janeiro de 2013 (Pág. 250)
Assunto
Aprova o Programa Nacional Estratégico para a Água 2013-2017.
Conteúdo do Diploma
Considerando que a criação de condições para o bem-estar das populações constitui uma das maiores preocupações do Executivo Angolano: Tendo em conta que têm sido implementados projectos e programas de grande envergadura, no domínio das águas, que visam atingir, por um lado, as metas nacionais estabelecidas e, por outro, satisfazer os compromissos internacionais, com vista ao alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM): O Presidente da República decreta, nos termos da alínea b) do artigo 120.º e do n.º 3 do artigo 125.º, ambos da Constituição da República de Angola, o seguinte:
Artigo 1.º (Aprovação)
É aprovado o Programa Nacional Estratégico para a Água 2013-2017, anexo ao presente Decreto Presidencial e que dele é parte integrante.
Artigo 2.º (Dúvidas e Omissões)
As dúvidas e omissões que resultarem da interpretação e aplicação do presente Diploma são resolvidas pelo Presidente da República.
Artigo 3.º (Entrada em Vigor)
O presente Decreto Presidencial entra em vigor na data da sua publicação. -Apreciado em Conselho de Ministros, em Luanda, aos 11 de Dezembro de 2012.
- Publique-se. Luanda, aos 31 de Dezembro de 2012. O Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
PROGRAMA NACIONAL ESTRATÉGICO PARA A ÁGUA 2013-2017 (PNEA)
Resumo Executivo:
- Introdução Na sequência da elaboração do Programa Nacional Estratégico para a Água (PNEA), e de modo a facilitar uma rápida apreensão do conteúdo do extenso trabalho desenvolvido, foi elaborado o presente documento, que constitui o seu Resumo Executivo. O PNEA tem um carácter objectivo, operacional e executivo e apresenta como finalidade a preparação de um quadro de investimentos plurissectoriais emergencial ou de curto prazo, suficientemente integrado e articulado, «gerindo» de uma forma equilibrada e sustentada os interesses «particulares» de cada sector em prol do interesse geral de desenvolvimento e crescimento económico imediato e de longo prazo de Angola. A definição, enunciada neste documento, do quadro de investimentos de curto prazo (quinquénio 2013-2017) integra-se numa linha orientadora de maior alcance, de referência temporal mais alargada, de médio e longo prazo (2035). O Programa Nacional Estratégico para a Água (PNEA) apresenta uma estrutura delineada de forma a constituir um instrumento prático para a análise criteriosa e integrada do Sector da Água em Angola, sendo intrinsecamente de carácter generalista, abrangente e ao mesmo tempo dinâmico, por forma a assegurar a necessária adaptabilidade às especificidades das várias regiões do País. No PNEA é efectuada uma caracterização multitemática da situação actual, recorrendo a todo o acervo de informação existente em diversas instituições com elementos relevantes, nomeadamente no Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial, no Ministério da Energia e Águas, no Ministério da Agricultura, no Ministério das Pescas, no Ministério da Indústria, no Ministério da Geologia e Minas, através do Instituto Geológico de Angola (IGA), no Ministério do Ambiente e na COBA, apoiando-se no conhecimento adquirido por esta empresa através dos numerosos estudos que tem vindo a elaborar para Angola, há mais de 30 anos, no domínio da água, dos quais se destacam o Plano Nacional de Irrigação de Angola - PLANIRRIGA, Planos Directores de Abastecimento de Água e Saneamento de várias capitais de província e de localidades de menor dimensão, e Estudos de Avaliação do Potencial Hidroeléctrico para diversas bacias hidrográficas. Para o desenvolvimento do trabalho, e considerando como base territorial as 11 Regiões Hidrográficas (RH) de Angola, foi necessário proceder à sua divisão, por razões de homogeneização de especificidades geomorfológicas, climatológicas e hidrográficas, em 22 Unidades Hidrográficas (UH) de dimensão mais reduzida, constituindo cada uma a unidade de análise geográfica e espacial. O PNEA, para além de incluir a caracterização biofísica, económica e social, ambiental, legal e institucional do Sector da Água em Angola, está especialmente focalizado para:
- a)- Identificação e quantificação das utilizações da Água (abastecimento urbano, industrial, irrigação, energia hidroeléctrica, usos ambientais, etc.);
- b)- Caracterização dos recursos hídricos (superficiais e subterrâneos), em quantidade e qualidade, a nível nacional e por região/bacia hidrográfica;
- c)- Realização do balanço hídrico das disponibilidades e utilizações da água;
- d)- Identificação e caracterização, espacial e temporalmente, dos principais problemas, como são as cheias, secas, erosão, etc., bem como dos conflitos actuais e potenciais de utilização da água;
- e)- Identificação de medidas e acções;
- f)- Definição de um programa físico e financeiro de curto prazo. A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), tomando em consideração aspectos tão diversos como o desenvolvimento humano, a governação ou as alterações climáticas, constitui o «pano de fundo» enquadrador das opções de planeamento e de decisão delineadas no PNEA. Na Figura seguinte apresentam-se, de forma esquemática, as principais actividades do processo de elaboração do PNEA.
- Síntese da Caracterização da Situação de Referência. 2.1 Biofísica. 2.1.1 Geomorfologia. A descrição da geologia, geomorfologia e litostratigrafia do território angolano foi efectuada a partir da Notícia Explicativa da Carta Geológica à escala 1: 1 000 000 (Serviço Geológico de Angola, 1992). Ao nível da litostratigrafia, a caracterização foi efectuada para as diferentes épocas (Arcaico, Proterozóico e Fanerozóico) e períodos. Para as rochas magmáticas, ultrametamórficas e metassomáticas, as rochas intrusivas são divididas em complexos do Arcaico Precoce e Tardio, do Proterozóico Precoce e Tardio, Cretácicos, Cretácico- Paleogénicos indiferenciados e de idade não definida. Quanto à tectónica, definiram-se os seguintes grandes elementos tectónico-estruturais: estruturas do Proterozóico Precoce, estruturas da cobertura da plataforma, zonas de activação tectono-magmática da plataforma e perturbações tectónicas. Devido às características específicas do relevo, o território do País pode ser subdividido em duas partes: Ocidental e Oriental. Na parte leste é característico o relevo de acumulação, enquanto na parte oeste predomina o relevo de denudação com intensos fenómenos de erosão actual. Figura 2.1 - Esboço geomorfológico de Angola (Fonte: Notícia explicativa da carta Geológica de Angola à escala 1: 1.000.000: 1992). 2.1.2 Clima. A República de Angola, situada na costa ocidental da África Central, fica compreendida entre as coordenadas 4º 22ʼ e 18º 2ʼ de latitude Sul e 11º 41ʼ e 24.º 2ʼ de longitude. O seu enquadramento geográfico, a sua geomorfologia e a corrente fria de Benguela são os três principais factores que condicionam as características climáticas do País, sendo o clima de Angola geralmente do tipo tropical, temperado pelo mar e pela altitude, mas variando consideravelmente com a latitude. A média anual da temperatura máxima do ar (Figura 2.2) oscila entre os 20 e os 34º C. As temperaturas mais baixas registam-se na faixa litorânea da região hidrográfica do Sudoeste e na zona do planalto central, sendo as maiores temperaturas registadas na zona sudoeste de Angola. A temperatura mínima média anual é mais baixa no Planalto e no Sul do País, variando entre os 11 e os 13º C. Na faixa litoral, com excepção do sul da província do Namibe, e no Norte do País, a média anual das temperaturas mínimas varia entre os 15º e os 21º C, verificando-se as temperaturas mais elevadas em Cabinda, no litoral Norte e no litoral a Sul do Kwanza. A evapotranspiração (Figura 2.4) varia com a altitude e a latitude, e também com a proximidade do mar, tomando valores médios entre os 3 e os 2,5 mm dia-1. A humidade relativa média anual é muita baixa no sul de Angola, sendo inferior a 50% junto à cidade do Lubango e na extremidade sul das bacias do Cuvelai e do Cuando.
- As isolinhas da precipitação média anual (Figura 2.5) evidenciam que a quantidade pluviométrica anual aumenta do litoral para o interior e que diminui de Norte para Sul. As precipitações atingem 1800 mm ou mais no interior de Cabinda e reduzem-se rapidamente ao longo do litoral e enquanto se caminha para sul, caindo para menos de 100 mm no sul (Província do Namibe). As precipitações são superiores a 1500 mm nas zonas mais altas das regiões montanhosas, especialmente nas Províncias do Huambo, Lundas e Uíge. 2.1.3 Solos. No âmbito do PLANIRRIGA (COBA, 2010) desenvolveram-se os estudos de classificação e cartografia dos solos, tendo sido identificadas 287 publicações respeitantes essencialmente à caracterização, classificação e cartografia de solos, e ainda outras publicações contendo elementos de interesse para o conhecimento dos recursos em solo e da aptidão das terras para o regadio. Na Figura 2.6 apresenta-se a versão simplificada da Carta de Solos, onde se pode observar que os Ferralsolos e os Arenossolos se constituem como os solos dominantes de Angola. Os Arenossolos são claramente o agrupamento de solos dominante em Angola, representando cerca de 53% da área de Angola, seguindo-se, por ordem decrescente, os Ferralssolos (22,7%), Luvissolos (4,5%) e Calcissolos (2,3%). Figura 2.6 - Versão simplificada da Carta Generalizada dos Solos de Angola (Fonte: Franco e Raposo 1997). 2.1.4 Recursos Hídricos Superficiais. A rede hidrográfica de Angola é bastante densa, predominando rios com escoamento impetuoso, muitas vezes apresentando quedas de água. Os rios distribuem-se por 5 sistemas de recepção de água:
- o Oceano Atlântico (os Rios Kwanza, Cunene, Chiloango, MʼBridge, Queve e outros), o Rio Congo (Cuango, Cuilo, Cassai com os seus afluentes da margem esquerda), o Rio Zambeze (Lungué-Bungo, Luanguinga e outros), a bacia de recepção do Kalahari (Kuito, Cubango e outros) e a bacia de recepção do Etosha (Cuvelai).
A avaliação da distribuição das disponibilidades hídricas ao longo do território nacional foi efectuada de forma indirecta com recurso à fórmula de Turc corrigida, calibrada com os registos de escoamento anual disponíveis para 16 estações (Chiumbe, Kassai, Kwanza, Cunene, Queve, Kuelei, Catumbela, Cubango, Luachimo, entre outras). O mapa do escoamento médio anual é apresentado na Figura 2.7. Calcularam-se ainda, no âmbito deste trabalho, os escoamentos correspondentes aos anos seco e muito seco (Quadro 2.1).
Os valores mais elevados do escoamento específico ocorrem na zona centro, na Província do Uíge e na Província da Lunda-Norte, atingindo valores da ordem dos 400 a 600 mm. O escoamento médio anual estimado para a totalidade do País é de 150 mm, o que corresponde a um volume médio anual de aproximadamente 188 hm3.
A UH do Kassai apresenta os maiores valores de precipitação e de escoamento médios anuais, respectivamente 1450 mm e 306 mm (Quadro 2.1). No entanto, as UH do Alto Kwanza, Queve, Cuango, Cabinda e Alto Cunene apresentam igualmente valores bastante elevados de escoamento médio anual, variando entre 294 mm (no Alto Kwanza) e 224 mm (no Alto Cunene).
Figura 2.7 - Escoamento médio anual. Quadro 2.1 - Unidades hidrográficas. Dimensão, Precipitação e Escoamento
2.1.5 Recursos Hídricos Subterrâneos A análise dos factores que condicionam a maior ou menor abundância de águas subterrâneas numa dada região possibilita a divisão de Angola em quatro grandes áreas ou quadrantes, em que determinados aspectos hidrogeológicos podem ser como que padronizados:
- Quadrante NW (correspondendo às Províncias do Zaire, Uíge, Malanje, Kwanza-Norte e Bengo) - Os aquíferos encontram-se em rochas compactas fissuradas e/ou karsificadas, portanto com permeabilidade média a alta, dando aquíferos extensos com boa qualidade de água e caudais entre os 5 a 10 l/s;
- Quadrante NE (Províncias das Lundas e Moxico) - Os aquíferos são de circulação predominantemente intergranular, com permeabilidade muito alta, constituindo aquíferos extensos de caudal á volta dos 5l/s. A qualidade da água é boa mas por vezes com teor elevado de ferro podendo piorar com a profundidade;
- Quadrante SW (Províncias de Benguela, Huambo, Huíla e Namibe) - Os aquíferos apresentam- se em rochas compactas fissuradas de permeabilidade média a baixa, formando aquíferos locais, de caudais entre 3 a 5l/s, de qualidade boa em geral, mas má em algumas áreas do sudoeste;
- Quadrante SE (Províncias do Cuando-Cubango e Cunene) - A circulação dos aquíferos é predominantemente intergranular, com permeabilidade muito alta, formando aquíferos extensos de caudais variáveis com a profundidade, tornando-se mais produtivos mas com mais salinidade. É na parte Sul e Sudoeste de Angola que existe um melhor conhecimento hidrogeológico do País pela existência de uma importante rede de captações de águas subterrâneas. A maioria dos recursos hídricos subterrâneos encontra-se no sudoeste do País, mais concretamente no Cunene (40%), Namibe (30%) e Huíla (15%) perfazendo um total de 85%, e ainda em Benguela (7%) e em Cabinda (3%). Nas restantes províncias, o número de captações é bastante reduzido, embora algumas delas apresentem caudais elevados em leitos aluvionares. 2.1.6 Qualidade da Água Como base para recolha de informações para a elaboração do presente capítulo foram consultados os Relatórios do Estado Geral do Ambiente em Angola (REGA, 2006 e 2012), assim como o Programa Nacional de Gestão Ambiental (PNGA, 2009), para além de dados analíticos compilados pela COBA no âmbito da elaboração dos Planos Directores de Abastecimento de Água de algumas capitais provinciais. As análises existentes são escassas, não traduzem a variabilidade da qualidade da água ao longo do ano nos locais analisados e não consideram, de acordo com as actuais tendências internacionais, parâmetros de natureza biológica e microbiológica. Contudo, os elementos recolhidos permitem inferir que a qualidade das águas superficiais, em particular no meio rural é, aparentemente, boa. Assim, a par da elaboração dos Planos Directores Gerais de Aproveitamento dos Recursos Hídricos do País, bem como da reabilitação da Rede Hidrométrica Nacional, manifesta-se a necessidade de implementar uma Rede Nacional de Qualidade da Água (contemplando a monitorização da qualidade das águas superficiais e subterrâneas).
- Julga-se assim, de primordial importância proceder à Regulamentação da Lei de Águas no sentido de ser produzida legislação, regulamentos e normas referentes à preservação e conservação dos recursos hídricos, à semelhança do Decreto Presidencial n.º 261/11, de 6 de Outubro, o qual aprova o Regulamento sobre a Qualidade da Água. De igual importância se afigura a efectiva implementação da legislação em vigor, ou que venha a ser publicada entretanto ao abrigo da Lei das Águas, nomeadamente do já referido Regulamento sobre a Qualidade da Água, o qual estabelece as normas e critérios de qualidade da água, com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas em função dos seus principais usos. Neste sentido, de acordo com o referido diploma (artigo 16.º): ...ʼʼ1. Para a monitorização da qualidade da água, nomeadamente no que se refere ao progresso técnico e científico, deve ser criada uma Comissão de Monitorização da Qualidade da Água, sob coordenação do Ministério do Ambiente,….ʼʼ. 2.1.7 Aspectos Ecológicos e Biodiversidade. As UH mais sensíveis no que concerne aos valores ecológicos são as que se localizam sobretudo no norte do País e no litoral, apesar das UH do Zambeze e do Cubango também apresentarem valoração elevada. A UH que se destaca com mais elevado índice de valoração é o Cuango, seguida do Baixo Kwanza, enquanto a que apresenta o valor mais baixo é o Alto Cunene. Este resultado poderá estar associado ao domínio das áreas florestais húmidas, com desenvolvimento no norte do País e à diversidade de ecossistemas ocorrentes no litoral, reunindo estas áreas condições para albergar uma grande diversidade faunística e florística. Por outro lado, o número elevado de bacias hidrográficas com desenvolvimento no litoral proporciona condições de desenvolvimento ideais para espécies com elevada dependência dos meios hídricos. 2.1.8 Situações de Risco. 2.1.8.1 Cheias e inundações. As cheias são fenómenos naturais extremos e temporários, provocados por precipitações elevadas ao longo de um curto período ou por precipitações repentinas e de elevada intensidade. Este excesso de precipitação faz aumentar o caudal dos cursos de água, originando extravasamento do leito normal e a inundação das margens e áreas circunvizinhas. A ocupação das zonas naturais de inundação dos cursos de água por construções e outros obstáculos à circulação dos caudais em cheia incrementam os níveis de água e as áreas de inundação, provocando elevados prejuízos materiais e muitas das vezes a perda de vidas humanas. Para além de cheias mais prolongadas, podem também ocorrer inundações repentinas, como consequência de precipitações intensas de curta duração em áreas muito impermeabilizadas devido o grande desenvolvimento urbano, como foi o caso registado na cidade de Luanda, no dia 26 de Abril de 1963, que destruiu grande parte da baixa da cidade e que pode voltar a acontecer se não forem criadas as condições para o seu controle e mitigação.
- De acordo com os dados relativos ao período de 2002 a 2004, ocorreram inundações em algumas regiões, nomeadamente nos Rios Kwanza, Dande, Onzo e Úcua (Bengo), Coporolo (Benguela), Bero, Giraúl e Curoca (Namibe), Menongue, Kuelei, Kuatili, Caiundo, Urica, Kuangar, Katuitui, Savati (Cuando-Cubango), Caála, Katchiungo, Tchicala, Tcholohanga (Huambo) e Vilande, Canje, Júlio, Kaluanda, Cassanje, Kwanza e Kuquema (Bié) e ainda nas Províncias de Huíla e Kwanza-Norte, tendo causado mortos, famílias desalojadas, casas destruídas e milhares de hectares de terras destruídos.
- Estes casos são exemplos de situações graves de cheias e inundações que afectaram o País e que devem ser controladas e mitigadas. Neste sentido, está actualmente em curso (fora do âmbito do PNA) a realização de planos de gestão e mitigação de cheias e a elaboração de sistema de previsão de caudais de cheia para a Província de Benguela (Rios Coporolo, Cavaco e Catumbela), para o Alto-Zambeze e para a Província do Namibe, onde são identificadas as áreas de risco de cheia e a preconização de medidas de mitigação. 2.1.8.2 Secas. As secas são fenómenos naturais extremos e temporários com propriedades bem características e distintas dos restantes tipos de catástrofes e em particular das cheias. De um modo geral, uma seca é entendida como uma condição física transitória caracterizada pela escassez de água, associada a períodos mais ou menos longos de redução extrema da precipitação, com impactos significativos nos ecossistemas e nas actividades socioeconómicas, em particular na actividade agrícola e na pecuária. Embora este tipo de desastre natural não coloque em perigo, de modo claro e directo, a vida humana, o facto é que ele acarreta elevados impactos socioeconómicos, nomeadamente na agricultura de sequeiro e na irrigação, na agro-pecuária, no abastecimento público, na indústria, e ainda na produção de energia, afectando a produtividade dos aproveitamentos hidroeléctricos. Em Angola, mesmo havendo regiões com abundância de água em relação às respectivas necessidades, existem outras com algum grau de escassez de água que, quando a precipitação
- normal se reduz, entram com facilidade numa situação crítica, com graves problemas para satisfazer as necessidades de água, em particular a agricultura de sequeiro. Foi o caso da seca que se registou em 2008 na região Sul, atingindo as Províncias de Benguela, Huíla, Namibe, Kwanza-Sul, Cunene e Cuando-Cubango, comprometendo as colheitas agrícolas na sua totalidade ou quase. A Província do Uíge teve também algumas culturas muito afectadas. Em 2006 registou-se igualmente seca na região Sul, embora com menor gravidade do que a seca de 2008. No ano de 2012, a Província do Namibe esteve igualmente afectada por uma situação de seca, com graves prejuízos para os agricultores, obrigando alguns deles a migrar para as cidades. 2.1.8.3 Erosão e Desertificação. A erosão e a desertificação estão directamente relacionadas com a seca, pois um período longo de seca numa região é factor impulsionador para gerar fenómenos de erosão e aumentar a desertificação para novas áreas. Estes fenómenos estão directamente relacionados com as condições de pobreza e o nível de vida da população.
- A erosão é um fenómeno que tem como consequência a perda de solo, afectando a sua qualidade e proporcionando condições para a propagação da desertificação em regiões áridas e semi-áridas. Em Angola estão identificadas várias áreas com graves problemas de ravinas, nomeadamente nas Províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Huambo e Luanda e maior incidência nas Províncias da Lunda-Norte, Lunda-Sul e Moxico. Foram já desenvolvidas algumas acções de contenção: contudo, só vai ser possível acabar com as ravinas a partir do momento em que haja trabalho de grande profundidade e alcance nos sistemas de drenagem pluvial das cidades.
- No que se refere à desertificação, a comunidade internacional reconheceu a sua importância como problema socioeconómico e ambiental no mundo. Em 1977, a Conferência das Nações Unidas sobre a desertificação aprovou um Plano de Acção de Combate à Desertificação. Apesar destes e outros esforços, a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, concluiu que a degradação da terra em terras áridas e semi-áridas tinha aumentado. Como resultado dessa conclusão, a Conferência apoiou uma abordagem nova e integrada do problema que culminou com a aprovação da Convenção do Combate à Desertificação, em 17 de Julho de 1994, em Paris. Este dia foi também adoptado pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o Dia Internacional de Combate à Seca e à Desertificação. 2.2 Património Arqueológico, Histórico, Arquitectónico e Edificado. O trabalho realizado teve como objectivo fundamental determinar áreas de especial sensibilidade patrimonial, que possam ser tidas em consideração não só na avaliação estratégica do PNEA, como também em futuros planos e projectos emanantes do mesmo. Na elaboração do presente estudo patrimonial foi respeitada a legislação em vigor referente ao Património Cultural. Com base nas informações geográficas fornecidas pelos diversos investigadores nas diversas publicações consultadas, procedeu-se a uma localização cartográfica dos elementos inventariados. Os dados recolhidos foram integrados em duas bases de dados. Relativamente ao Património Arqueológico, a base de dados tem em consideração as informações disponíveis e a natureza dos elementos patrimoniais identificados. Na base de dados do Património Protegido, foi incluído um campo respeitante ao documento legal que procedeu à sua classificação, e outro respeitante à sua integração na Lista Indicativa da UNESCO. Atendendo à caracterização realizada no que se refere ao património Arqueológico, Histórico, Arquitectónico e Edificado e atendendo em particular ao valor patrimonial e características dos elementos patrimoniais identificados, e tendo em consideração a natureza das acções programadas no âmbito do PNEA, foi avaliada a sensibilidade patrimonial associada a cada uma das unidades hidrográficas estabelecidas. As UH associadas às bacias dos Rios Kwanza, Longa, Catumbela, Queve, e ainda a UH do Sudoeste, apresentam particular sensibilidade patrimonial, a qual deverá ser tida em consideração quando da implementação dos projectos emanantes do presente Programa. 2.3 Sócio-económica. 2.3.1 Demografia. Os dados populacionais para Angola indicam que a população total de Angola tem crescido a uma taxa média de 3%/ano, sofrendo um aumento de 5,6 para 16,9 milhões de habitantes entre 1970 e 2009 respectivamente, prevendo-se uma população total em 2017 de 21,8 milhões de habitantes. A população angolana é de um modo geral jovem, com uma taxa de natalidade elevada e com uma reduzida percentagem de população idosa, reflectindo a baixa esperança média de vida. A distribuição da população pelos dois géneros é relativamente idêntica, sendo a proporção de mulheres ligeiramente superior à de homens, 52% e 48% respectivamente. Analisando a distribuição da população pelas várias províncias concluímos que cerca de 63% da população total está concentrada em apenas 5 Províncias: Benguela, Huambo, Huíla, Kwanza- Sul e Luanda, que ocupam cerca de 1/6 do território angolano. Cerca de 29% da população está localizada na Província de Luanda, onde a densidade populacional ultrapassa os 1 985 hab/km2. Analisando a evolução da população ao nível das UH verifica-se que o crescimento populacional é mais evidente nas UH do Longa e do Queve, ambas com uma taxa de crescimento média anual entre 2009 e 2017 de 4,8%. Por outro lado, as UH que apresentam uma taxa de crescimento média da população mais baixa são as do Baixo Kwanza e a do Bengo, com 2,5% e 2,4% respectivamente. No que respeita à densidade populacional, 19 das 22 UH apresentam uma densidade populacional inferior a 50 hab/km2, com especial destaque para a baixa densidade da UH do Cuando com apenas 0,6 hab/km2, seguida da UH do Zambeze com menos de 3 hab/km2 em 2009. A unidade hidrográfica do Bengo é a que apresenta uma densidade populacional mais elevada, com um valor superior a 200 hab/km2, muita acima da média do País, que ronda os 13 hab/km2 devido, essencialmente, ao facto de abranger parte da Província de Luanda. 2.3.2 Economia. 2.3.2.1 Principais indicadores macroeconómicos. Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de um crescimento mais discreto do que o previsto pela EIU (Economist Intellegence Unit) para 2010, 3,41% em vez de 5,9% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a recuperação da economia angolana após a crise financeira mundial em 2008/2009 foi plenamente alcançada, acompanhando o processo de recuperação da economia mundial. O Sector de Energia e Águas e apesar da sua indiscutível importância na economia e desenvolvimento de qualquer País têm uma participação muito reduzida no PIB (0,1%). No entanto foi o sector que apresentou uma taxa de crescimento média anual do PIB maior entre 2002 e 2010, ascendendo a 40%/ano. Emprego. No que diz respeito à geração de emprego, em Angola tem-se observado uma evolução positiva ao longo dos anos, traduzindo-se numa taxa de crescimento média do número de empregados de 4,3% ao ano entre 2006 e 2010. Taxa de Inflação. Devido a alguns constrangimentos estruturais, ainda não foi possível reduzir a taxa de inflação angolana (medida pelo índice de Preços do Consumidor da Cidade de Luanda) a apenas 1 dígito, sendo este um dos objectivos do Governo há já algum tempo. Desde o final do conflito em 2002, a taxa média anual de inflação tem sofrido um decréscimo acentuado, passando de 117,7% em 2002 para 12,2% em 2006. Contudo, desde 2006 que este ritmo de desinflação da economia tem vindo a diminuir, com um ligeiro aumento de 2008 a 2010. Balança de Pagamentos. Relativamente à Balança de Pagamentos, verificou-se em 2010 um aumento das exportações, contrariando o verificado em 2009, e uma diminuição das importações, resultando num saldo da Balança Comercial positivo (13 739,8 milhões de USD). O aumento das exportações de bens e serviços foi sobretudo efeito de uma melhoria do preço do petróleo no mercado internacional. 2.3.2.2 Cenários prospectivos de curto prazo. Qualquer projecção económica para Angola está dependente do comportamento expectável para o preço do petróleo. No entanto, outros factores poderão influenciar a economia do País, nomeadamente a crise financeira que se vive actualmente na Europa que, na opinião de alguns economistas, poderá levar a uma nova crise mundial mais profunda e mais extensa. Contudo, é opinião das principais instituições económicas e financeiras que o crescimento mundial vai-se manter nos próximos anos. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook, 2012) as previsões para Angola são de crescimento do PIB até 2017. O PIB per capita deverá crescer de 6 009 USD em 2012 para 7 157 USD em 2017. Esse crescimento está previsto ser a uma taxa média anual de 6,5% (PIB a preços constantes) entre 2012 e 2017, como resultado de um crescimento mais acentuado logo em 2012 (9,7%). Em relação à taxa de inflação, segundo o FMI, o objectivo de redução para um dígito há muito desejado pelo Governo será alcançado em 2013, fixando-se em 8,35%. Este decréscimo manter-se-á até 2017, onde a taxa de inflação atingirá os 4,5%. Com base nesta informação foi possível identificar dois cenários (Cenário Baixo e Cenário Alto) possíveis para a evolução da economia angolana nos próximos 5 anos (2012-2017). Segundo as projecções da OCDE, o preço do petróleo crescerá a uma taxa média de 1,8% ao ano entre 2012 e 2017. Se compararmos com o crescimento verificado nos últimos 5 anos (4,9%/ano) estas projecções são bastante contidas, mais ainda se compararmos com a taxa de crescimento dos últimos 10 anos (14%/ano). Por esta razão admitimos para o Cenário Baixo um crescimento do PIB petrolífero (preços correntes) a um ritmo idêntico ao previsto pela OCDE para o preço do petróleo. No que diz respeito ao PIB não petrolífero prevê-se para este cenário um crescimento inferior ao verificado nos últimos 5 anos, no entanto, ainda assim superior ao previsto para o sector petrolífero. Estimou-se um crescimento do PIB a preços correntes dos diversos sectores não petrolíferos igual a 1/3 do crescimento verificado nos últimos 5 anos, em grande parte como consequência do abrandamento do crescimento do PIB petrolífero, considerado como o motor da economia angolana. No caso do Cenário Alto, as projecções assumidas replicam os acontecimentos verificados nos últimos 5 anos. Isto significa um crescimento do PIB angolano a preços correntes de 22,2% ao ano, resultado de um crescimento do PIB petrolífero de 18% ao ano, em consequência de um crescimento do preço do petróleo idêntico ao verificado nos últimos 5 anos (4,9%/ano) e de um crescimento dos restantes sectores de 26,8%/ano. 2.3.3 Índice de Desenvolvimento da População. Com o objectivo de identificar zonas prioritárias que ajudarão na tomada de decisões futuras no contexto do PNEIA, e com o intuito de averiguar o nível de pobreza e de desenvolvimento social do País, no âmbito deste trabalho procedeu-se à caracterização de diversos critérios sociais e de desenvolvimento humano: saúde, educação, habitação, acesso à água, saneamento e pobreza. A análise destes critérios permitiu produzir um indicador, índice de Desenvolvimento da População (IDP), que permite distinguir as províncias mais carenciadas das menos carenciadas no que diz respeito ao acesso a bens e serviços essenciais. Figura 2.8 - Índice de Desenvolvimento da População (IDP). De acordo com o critério utilizado, as províncias do Este e Sul do País são as que apresentam um IDP mais baixo, nomeadamente a Lunda Norte, Lunda Sul, o Cunene, o Cuando Cubango e o Moxico. Pelo contrário as províncias do litoral e metade Oeste do País são as que apresentam um IDP mais alto, nomeadamente Luanda, Cabinda, Huambo, Huíla e Zaire. 2.4 Legal e Institucional. A Gestão dos Recursos Hídricos em Angola encontra-se definida com base num conjunto de diplomas legislativos onde se destaca a Lei das Águas, de 21 de Junho de 2002. Esta Lei estabelece as regras para o uso e utilização da água tendo em vista a gestão integrada, o desenvolvimento dos recursos hídricos e a sua protecção e conservação, e compete às instituições do Estado a definição da política geral e o seu desenvolvimento. A Lei das Águas estabelece, na alínea a) do artigo 3.º, que o «domínio público hídrico, a política geral da sua gestão e desenvolvimento, bem como as competências, são atribuídos às instituições do Estado com elas relacionadas». Cabe ao organismo da tutela a articulação com as instituições interessadas na gestão das águas na implementação das orientações gerais da política de gestão de águas. A organização institucional dos Recursos Hídricos inclui a participação, entre outras instituições, dos Ministérios responsáveis pelas principais utilizações da água: abastecimento das populações: abastecimento industrial: saneamento: energia: e irrigação. O Ministério da Energia e Águas tem a sua estrutura orgânica definida no Decreto presidencial n.º 77/10, de 24 de Maio, onde se aprova o respectivo Estatuto Orgânico. O artigo 1.º do Estatuto Orgânico do MINEA refere que este «é o Departamento Ministerial Auxiliar do Presidente da República que tem por objecto propor a formulação, condução, execução e controlo da política do Executivo nos domínios da energia, águas e saneamento». O Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas tem a sua estrutura orgânica definida no Decreto que aprova o seu Estatuto Orgânico, datado de 25 de Junho de 2010, enquanto o estatuto orgânico do Ministério do Ambiente está plasmado no Decreto-Lei n.º 4/09, de 18 de Maio. O Decreto presidencial n.º 253/10, de 16 de Novembro, define o Estatuto Orgânico do Instituto Nacional de Recursos Hídricos. A criação deste organismo «de fim específico, encarregue de planeamento dos recursos hídricos à escala nacional, tendo em vista a execução de uma política nacional de recursos hídricos...», e cuja Direcção tomou posse muito recentemente, visa incutir uma nova dinâmica na gestão deste recurso. Este Instituto, com autonomia administrativa e financeira, irá manter o carácter executivo das Direcções Nacionais do Ministério da Energia e Água, (com excepção da Direcção Nacional de Recursos Hídricos) e da Direcção Nacional de Hidráulica Agrícola e Engenharia Rural do Ministério da Agricultura. A tutela deste Instituto é regida por três Diplomas: O Estatuto Orgânico do INARH, no seu artigo 4.º refere que a «tutela e superintendência são exercidas pelo membro do executivo responsável pelo sector das águas»; A Lei de Águas estabelece na alínea a) do artigo 3.º que o «domínio público hídrico, a política geral da sua gestão e desenvolvimento, bem como as competências, são atribuídas às instituições do Estado com elas relacionadas»; O artigo 1.º do Estatuto Orgânico do MINEA já referido anteriormente. Destes três diplomas resulta a conclusão de que o MINEA é a entidade pública responsável pela tutela do INARH. De acordo ainda com o Anteprojecto do Regulamento de Utilização Geral dos Recursos Hídricos que define o regime de utilização geral destes recursos, cabe ao INARH a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos. O INARH dispõe de um serviço desconcentrado, o Gabinete de Administração de Bacia Hidrográfica, responsável pela gestão da respectiva bacia hidrográfica que corresponde à unidade básica de gestão dos recursos hídricos. A este Gabinete cabe, entre outras funções, a elaboração e execução do Plano Geral de Desenvolvimento e Utilização de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica. Para além dos Ministérios, também os Governos Provinciais têm competência no «acompanhamento da execução dos planos dos programas económicos e de investimento público e atribuições e na elaboração dos respectivos relatórios...». Na Figura seguinte ilustra-se a interligação entre as diferentes entidades intervenientes. O Regulamento sobre a Qualidade da Água - Decreto Presidencial n.º 261/11, Diário da República, I Série n.º 193, atribuiu ao MINAMB a responsabilidade pela coordenação da garantia contínua da qualidade da água. Entre outras competências contidas no Estatuto Orgânico do MINAMB, refere-se à coordenação das estratégias e políticas de protecção, preservação, gestão ambiental e preservação e uso racional dos recursos naturais renováveis. De realçar a ligação que se prevê venha a desenvolver-se entre o INARH e os diferentes Gabinetes de Bacias Hidrográficas. Estas entidades terão a responsabilidade de elaborar os Planos Gerais de Desenvolvimento e Utilização de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas e existirá em cada bacia um Conselho de Bacia Hidrográfica, cuja competência, composição, organização e funcionamento ainda se encontra por regulamentar. De qualquer forma, nestes Conselhos estarão representados os «órgãos da administração directa e indirecta do Estado, ligados directa ou indirectamente à gestão e utilização dos recursos hídricos, por organizações profissionais e económicas, comunidades locais e por diferentes tipos de utilizadores» (
Artigo 10.º do Regulamento de Utilização Geral dos Recursos Hídricos). Por razões históricas, a Bacia Hidrográfica do Cunene encontra-se numa fase mais adiantada no que se refere à gestão da água, dispondo já de um «Plano para a Utilização Integrada dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Cunene», concluído em 2001 (Álvaro Pereira e Teresa Fidélis na Comunicação apresentada no IX Congresso luso Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, realizado em Luanda, Novembro de 2006) e de um Gabinete para a Administração da Bacia Hidrográfica do Cunene, o GABHIC. A organização funcional dos futuros gabinetes de Bacias decorrerá dos Planos que vierem a ser elaborados para as 47 Bacias Principais.
- Encontra-se igualmente previsto no Regulamento de Utilização Geral dos Recursos hídricos a existência de um Conselho Nacional de Águas, órgão de consulta nacional. A implementação deste novo quadro legislativo deverá ser acompanhado de algumas preocupações, com destaque para: A necessidade de descentralizar, a um ritmo adequado, algumas funções para as Bacias hidrográficas e de acordo com a implementação dos respectivos Planos de bacia; A necessidade de fortalecer, progressivamente, as entidades privadas e associativas na gestão da utilização da água; Promover na agenda política, económica, social e ambiental, a importância da gestão dos recursos hídricos; Reforçar o princípio de valor económico da água junto dos vários utilizadores; Promover a cooperação internacional em particular em bacias partilhadas (artigo 19.º) e as obrigações resultantes de compromissos internacionais (artigo 76.º) (Álvaro Pereira e Teresa Fidélis na Comunicação apresentada no IX Congresso luso afro-brasileiro de Ciências Sociais, realizado em Luanda, Novembro de 2006); Atender que as reformas legislativas devem ser acompanhadas de um reforço técnico financeiro e político das novas instituições criadas; Adaptar o novo quadro legislativo à procura crescente das diferentes utilizações da água; Avaliar os impactos da recente reforma legislativa; Gerir conflitos prováveis entre os diferentes usos da água. 2.5 Utilização dos Recursos Hídricos. 2.5.1 Abastecimento Público e Saneamento. 2.5.1.1 Descrição do Sector. O sector público de abastecimento de água inclui, para além do abastecimento urbano, o abastecimento periurbano e o abastecimento rural. Os usos, consumos e necessidades de água urbana englobam a população, comércio, serviços e indústria ligada à rede pública. Em todos os usos urbanos estão incorporadas as perdas, que incluem as fugas e os volumes não contabilizados ou contabilizados mas não facturados. A captação de água para fins de abastecimento urbano é realizada por um conjunto diversificado de entidades. Todavia, um número bastante elevado de utilizadores individuais recorre ainda e quase exclusivamente a captações/pontos de água próprias. As entidades que asseguram os Sistemas de Abastecimento e Saneamento às Populações são a Direcção Nacional de Abastecimento de Águas e Saneamento (DNAAS), Empresa Pública de Águas, EPAL - EP de Luanda, Empresas de Águas e Saneamento de Lobito e Benguela (EASBL), e Governos Provinciais. No Huambo existem 6 Empresas Municipais de Água e Saneamento em funcionamento:
- Huambo - Empresa Provincial de Água e Saneamento do Huambo (EPASH) (Caala, Chikala-Cholohanga, Bailundo, Londuimbale e Alto Hama). Destas seis, só três (Huambo, Chikala-Cholohanga e Caala) estão mais ou menos operacionais. Existem ainda Brigadas de Água e Saneamento em Ukuna, Longongo e Tchingenje. De acordo com informações obtidas na DNAAS, prevê-se brevemente a criação de 9 empresas públicas provinciais, de acordo com o objectivo estabelecido no Plano de Acção Estratégico do Sector da Água - PDISA, elaborado com apoio do Banco Mundial. Da parte do governo angolano prevê-se a criação a curto prazo de mais 6 empresas públicas de água: Cunene, Benguela, Lobito, Saurimo, Dundo e Sumbe. Ficam a faltar empresas para gerir as cidades de Namibe e Cabinda. Como forma de tutelar estas empresas de água, o MINEA prevê a criação de uma entidade gestora do património e uma entidade reguladora do sector das águas. Esta acção está enquadrada no programa sustentável de desenvolvimento institucional do sector da água, cofinanciado pelo Executivo angolano e pelo Banco Mundial, que deverá definir o modelo empresarial e de gestão. Os Sistemas de Abastecimento de Água funcionam, em geral, de forma precária com tarifas baixas e dependência do Orçamento Geral do Estado (OGE), mesmo para as questões do dia-a-dia, criando grandes dificuldades na operação e manutenção dos sistemas. No que se refere à situação das redes de água, verifica-se que estas cobrem normalmente apenas a zona central das cidades, com as zonas periféricas sem qualquer tipo de abastecimento ou com abastecimento precário. A produção de água tratada não é usualmente suficiente para colocar em carga o sistema existente, pois as redes de água são velhas e com muitas fugas (acima de 40%). Relativamente às redes de saneamento estas são unitárias, existem em muito poucas cidades, com uma taxa de cobertura muito baixa. De um modo geral as redes existentes de drenagem de águas residuais apresentam sérias deficiências. As cidades do Huambo, Namibe, Dundo e Saurimo têm uma cobertura parcial por redes de esgotos e no curto/médio prazo deverão possuir estações de tratamento de águas residuais. Apenas em Luanda, Lobito e Benguela há sistemas de tratamento de águas residuais. Entretanto, as empreitadas e os estudos concluídos e preparados para o lançamento de obras já incluem obras de reabilitação no domínio das águas residuais. Recentemente foram aprovados obras de melhoria do abastecimento de água no Namibe e do Lubango, também com intervenções de envergadura significativa na componente de saneamento. Constituindo o bem-estar da população, um dos maiores objectivos do Governo Angolano, o abastecimento de água é uma das componentes mais importantes para esse bem-estar. Neste sentido, têm sido implementados Projectos e Programas de grande envergadura, a fim de se atingir, por um lado, as metas nacionais estabelecidas e por outro, satisfazer os compromissos internacionais, com vista ao alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Os ODM propõem reduzir, para metade, em 2015, o número de pessoas sem acesso adequado ao saneamento básico e à água potável. Sem dúvida que tal objectivo, vai exigir um grande esforço financeiro e institucional, que se deve destacar. Os Planos Directores de Abastecimento de Água e Saneamento, elaborados para 17 capitais provinciais e para um horizonte temporal de 2030, incluem estudos preliminares de engenharia relativos a obras de abastecimento de água e saneamento de águas residuais, com a elaboração de documentos para concurso de obras a elaborar numa primeira fase e identificação de Planos de Acção para intervenções pontuais de melhoramento a curto prazo e que sejam coerentes com o plano a longo prazo. A melhoria do abastecimento de água urbano e rural exige a resolução de vários problemas, onde se destacam a abrangência territorial limitada dos sistemas existentes, o que implica custos elevados da água para as populações das áreas periféricas, que têm que recorrer ao mercado informal, os sistemas de informação sobre os sistemas de abastecimento de água e sobre a sua gestão, o que dificulta o acompanhamento do progresso do sector, nomeadamente: Registo de sistemas, aspectos técnicos, institucionais e financeiros; Investimentos sectoriais a nível regional e municipal; Planificação baseada em dados estimados o que dificulta o acompanhamento do sector; Dificuldades de coordenação entre o governo central e local: Deficiente coordenação entre os financiadores: Número de projectos e montantes de investimentos sectoriais não conhecidos totalmente. O Sector de Água e Saneamento encontra-se em pleno processo de reforma, para o qual se definiram linhas de orientação estratégica, programas e planos executivos, devidamente alinhados com um importante conjunto de instrumentos-chave, designadamente: Os compromissos de Angola, relativamente aos ODM, relacionados com o Sector de Água e Saneamento; Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo, Angola 2025, que preconiza objectivos claros para o desenvolvimento humano, aos quais se associam, naturalmente, um conjunto de desafios para o Sector das Águas; O Programa de Desenvolvimento do Sector das Águas e o Programa do Governo para o Período 2009-2012, que, em relação ao Sector das Águas, estabelece como missão «Agir no sentido de proporcionar à população acesso à água potável nas áreas urbanas e rurais, bem como o acesso à água para as actividades económicas», programas que incluem planos de investimentos e estabelecem metas de ampliação de cobertura, buscando impacto na população mais necessitada; Versão preliminar da legislação sobre águas residuais. Com o aumento dos sistemas de abastecimento de água à população e sabendo que 80% da água fornecida é convertida em águas residuais, há a necessidade e responsabilidade de construir-se estações de tratamento de águas residuais, assim como realizar na reabilitação e construção de redes de colectores de águas residuais. Os esforços para atingir as metas sectoriais estabelecidas pelo Governo angolano e pelas entidades internacionais (ODM), devem incluir para além dos esforços financeiros e tecnológicos, o fortalecimento técnico, institucional, social e pedagógico dos serviços responsáveis pela gestão dos serviços e uma maior consciência da população sobre a importância e valorização dos recursos hídricos para a sua vida, saúde e subsistência. 2.5.1.2 População, taxas de cobertura e capitações. De acordo com os dados do Inquérito Integrado sobre o Bem-Estar da População (IBEP 2009) realizado pelo INE e do Programa Água para Todos (PAT), estima-se que a população residente em Angola actualmente é de 18 57 65 70 habitantes e em 2017 será de 21 833 318 habitantes, dos quais 56% vivem no meio urbano e 44% no meio rural, valores que foram adoptados neste estudo. Segundo os dados do INE (IBEP, 2008-2009), a taxa de cobertura de água (à população beneficiada com acesso a uma fonte apropriada para beber) é cerca de 42% a nível nacional, sendo 58% no meio urbano e 23% no meio rural. O PAT é de âmbito nacional e na sua fase inicial (2007) abrangeu todas as províncias e no terceiro trimestre de 2012 foram concluídas muitas obras de abastecimento de água, que permitiram servir até agora um total de 4 097 067 habitantes, sendo que a população rural inicialmente coberta era de 1 911 889 habitantes. Esse acréscimo de população servida colocou a taxa de cobertura actual nas zonas rurais (final de Setembro) em 50,3%. A figura abaixo apresenta em resumo as taxas de cobertura de abastecimento de água potável consideradas nas diferentes áreas residenciais. Para a definição das necessidades de reforço de abastecimento de água é necessário estimar os consumos para diversos tipos de consumidores e de ligações à rede, bem como as perdas na rede.
- Consideraram-se os seguintes consumos per capita médios diários: Padrão A: População com ligações interiores de água, bem como à rede de saneamento: consumo per capita médio diário de 70 1/hab.Dia; Padrão B: População com ligações de água através de torneira à porta de prédio ou do prédio vizinho, e soluções de saneamento de individuais do tipo fossa séptica-poço roto: consumo per capita médio diário de 40 1/hab.Dia; Padrão C: População que vive em musseques sem serviço interior de água, recorrendo a chafarizes e sem ligação à rede de saneamento, com soluções individuais de saneamento do tipo latrina: consumo per capita médio diário de 25 1/hab. Dia; Padrão D: População que não está beneficiada com acesso a uma fonte apropriada para beber (população não coberta), recorrendo a outros pontos de água como cacimbas, nascentes, riachos, rios ou charcos, camião cisterna, água da chuva ou chipacas: consumo per capita médio diário de 15 1/hab.dia diário. Em termos médios e de acordo com os dados do INE (IBEP, 2008-2009), considerou-se a seguinte distribuição de população urbana por tipo de padrão de consumo: 14,7% População com cobertura de abastecimento de água potável com consumo do tipo padrão